Introdução
Há mais de 26 anos, dedico minha vida à educação. Nos últimos 16 anos, como diretora escolar, venho acompanhando de perto a formação de crianças e jovens, orientando famílias e observando atentamente as mudanças no comportamento das novas gerações. A tecnologia trouxe consigo oportunidades e desafios. E, como mãe de três filhos — de 10, 7 e 5 anos — enfrento, assim como muitos pais, o dilema das telas.
O Contexto Atual nas Escolas e a Nova Lei de Proibição
O recente projeto de lei que visa proibir o uso de celulares nas escolas de educação básica no Brasil reflete uma preocupação crescente. A aprovação deste projeto na Comissão de Educação nos faz pensar sobre as consequências que os aparelhos trazem para a sala de aula e para a vida de nossos filhos. No Colégio Otto, vejo diariamente como os dispositivos móveis influenciam o comportamento, a atenção e a interação dos alunos. Como educadora, apoio essa medida, pois sei o impacto que um ambiente sem distrações pode ter na qualidade da aprendizagem.
A Experiência como Mãe e os Desafios da Inclusão Social
Em nossa casa, meu esposo e eu definimos em conjunto as decisões sobre o uso de telas. Escolhemos limitar o acesso dos nossos filhos aos dispositivos, não de forma radical, mas com equilíbrio. Permitimos que assistam TV, vão ao cinema, façam pesquisas supervisionadas no computador e, em algumas ocasiões, usem o celular para tirar fotos. Contudo, não têm tablets ou celulares próprios. Essa decisão veio após anos de reflexão e observação, tanto no ambiente escolar quanto em casa. Conversamos e debatemos essa e outras questões em família, envolvendo nossos filhos e procurando explicar os motivos das nossas escolhas. No entanto, minha filha mais velha, prestes a completar 11 anos, recentemente me pediu um celular. Eu a compreendo, mas essa decisão não é simples.
A Exposição Precoce a Conteúdos e a Terceirização da Criação
Na escola, vemos os impactos de uma exposição precoce e constante a conteúdos inadequados para a idade das crianças: violência, sexualidade e outros temas para os quais elas ainda não estão preparadas. Além disso, o uso de telas como forma de acalmar ou distrair as crianças tem se tornado uma alternativa comum, resultando em uma espécie de terceirização da criação para as telas. Esse tipo de “solução” acaba criando uma dependência digital e traz consequências sérias, que afetam a capacidade da criança de desenvolver habilidades emocionais e relacionais fundamentais.
O Dilema do Celular: Proteger ou Permitir?
A experiência de ver minha filha sendo socialmente excluída por não ter um celular me comoveu. Em um mundo onde a convivência está cada vez mais mediada pelas telas, a questão que me faço é: será que negar um celular a ela a priva de uma experiência importante? Ou será que, ao esperar o momento certo, ofereço a ela uma oportunidade de crescer com uma visão mais equilibrada sobre as relações e a tecnologia?
A Realidade dos Efeitos das Telas: O que Vemos nas Escolas
Estudos apontam para um aumento da ansiedade e da impulsividade em crianças que usam excessivamente dispositivos digitais. Elas se tornam menos tolerantes ao erro, mais imediatistas e com dificuldades de empatia. No contexto escolar, isso se traduz em desafios diários para os educadores e as famílias. Tenho visto como o uso constante de dispositivos pode prejudicar o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças.
Refletindo sobre as Decisões e o Futuro
Para outros pais e educadores, meu conselho é buscar o equilíbrio e a reflexão sobre como a tecnologia deve entrar na vida dos filhos. Nossa função não é impedir o progresso, mas guiar para que ele aconteça com responsabilidade e consciência. Meu esposo e eu continuaremos dialogando com nossos filhos, buscando sempre um caminho saudável para que eles entendam tanto os benefícios quanto os limites da tecnologia. No fim das contas, esse é um desafio que todos enfrentamos: como educar filhos capazes de se conectar com o mundo ao redor, mas que também saibam desconectar-se quando necessário.
Conclusão Como mãe e educadora, sei que não há respostas fáceis. Mas acredito que, juntos, podemos encontrar caminhos que priorizem o desenvolvimento saudável e pleno de nossos filhos. O equilíbrio é o nosso melhor aliado. E, afinal, qual é a idade ideal para uma criança ter um celular? Talvez a resposta esteja em uma combinação de maturidade emocional, supervisão e a capacidade de lidar com o impacto que essa tecnologia traz para suas vidas.